Uma crise de cultura no Brasil
A consciência cidadã
reconhece a gravidade do atual momento vivido pelo Brasil. Não se trata de
alarmismo ou pessimismo, mas oportunidade para uma atitude: é preciso que cada
um assuma a corresponsabilidade na busca por soluções para os muitos problemas
que o país enfrenta.
A gravidade deste atual
momento político, econômico e social aponta para a necessidade de investir
na formação de um novo tecido cultural
capaz de fazer surgir um tempo diferente, marcado pela superação das crises
terríveis que prejudicam, principalmente, os mais pobres. Nesse sentido,
fundamental é compreender que não basta, embora seja importante, avançar na
configuração formal e legislativa das reformas.
Os processos que
norteiam as necessárias mudanças têm significativa influência para que as
transformações garantam mais justiça. Por isso mesmo, todos devem
acompanhar, debater e contribuir com a efetivação das reformas. Porém, ainda
mais determinante é compreender a importância da cultura e a necessidade de
investir na sua renovação.
Cultura
Cultura refere-se ao
conjunto de hábitos e modos de agir no cotidiano.
Posturas que revelam como determinada civilização estabelece relações e,
consequentemente, exerce a representatividade política, respeitando ou não o
bem comum. Assim, é preciso perceber que para a sociedade brasileira não é
suficiente promover mudanças apenas na dimensão normativa. É preciso despertar
o apreço pelo respeito ao outro e, a partir disso, conquistar um patamar
civilizatório balizado por valores
inegociáveis, fundamentados no bem e na justiça.
O tecido cultural da
sociedade brasileira está corroído e, por isso mesmo, o país convive com a
corrupção endêmica. Consequentemente, há um consenso sobre a falta de
credibilidade da esfera política – os políticos são considerados cidadãos
em quem não se pode acreditar. Ao mesmo tempo, perde-se o sentido de
solidariedade.
Percebe-se a falta de
sensibilidade social, a indisponibilidade para partilhar o que se tem, apoiando
projetos sociais e outras iniciativas capazes de promover o desenvolvimento de
toda a sociedade. Ao se comparar com outras culturas, em um ranking de
sociedades solidárias, os cidadãos brasileiros deveriam ficar com os brios
mexidos. Esse é o contexto que causa apreensões em razão da delicada conjuntura
política, econômica e social pela qual passa o país.
Participação
da sociedade
Apenas ignorar os
políticos, sem acompanhar, atentamente e de modo participativo, o que fazem os
representantes do povo, é passo rumo à bagunça geral, que leva a irreversíveis
prejuízos. A economia, dependente da política, continuará impactando
negativamente na vida da população, pois prevalecerá a primazia do mercado ao
bem-estar das pessoas, a prevalência do capital sobre o trabalho.
A raiz das muitas
crises vividas tem caráter antropológico ao negar a prioridade do ser humano.
Percebe-se que o Estado não pode ser jamais submetido ao mercado. Submisso à
“lógica financista”, que é intrinsecamente perversa, o Estado se enfraquece e
deixa de cumprir seus deveres. Sempre oportuno é recordar o que diz o Papa
Francisco: o dinheiro é para servir e não para governar.
O importante processo
de reconstrução do Brasil tem no diálogo amplo, com a participação de todos,
efetivo exercício da cidadania, o seu ponto de partida e referência para o seu
equilíbrio. É, especialmente, vetor que impulsiona a civilização rumo à
conquista de um novo tecido cultural, capaz de sustentar as transformações
necessárias.
Portanto, à medida que se aproxima o turno decisivo
das eleições presidenciais, o clima de polarização no cenário da política
brasileira, tem acentuado e atingindo instituições das mais diversas no País.
Nos últimos dias, principalmente nos meios universitários, flagraram-se atos de
patrulhamento ideológico e intolerância explícita, que não condizem com a
tradição de liberdade e pluralidade característica de ambiente acadêmico.
Dai, a Universidade Estadual do Ceará -Uece
divulgou nota pública “em defesa da democracia”, posicionando-se “contra a
violência, a opressão e todas as formas de preconceito e discriminação”,
justificando seu posicionamento em meio ao atual momento político do País,
afirmando “iminente possibilidade de um profundo retrocesso social, político e
econômico”.
Confira nota da Uece na sua íntegra:
A
Reitoria da Universidade Estadual do Ceará consciente do papel crucial que esta
universidade desempenha na sociedade e considerando a importância histórica do
atual momento de nosso país, vem tornar público o seu compromisso com a
democracia brasileira, diante da iminente possibilidade de um profundo
retrocesso social, político e econômico. Nesse sentido, manifesta o seu apoio a
defesa do Estado Democrático de Direito e, portanto, de todos os direitos
assegurados em nossa Constituição.
Vivencia-se
um regime democrático quando, de fato, respeitam-se a dignidade da pessoa
humana, a liberdade, a cidadania, o pluralismo de ideias e de opiniões, tendo
em vista a efetivação de todos os direitos e garantias fundamentais.
Estamos
sendo convocados a nos posicionar contra a violência, a opressão e todas as
formas de preconceito e discriminação; e a combater a intolerância, o
embrutecimento humano e a desvalorização da vida. Que possamos nos engajar
coletivamente em prol da redução das desigualdades, da defesa dos bens e
serviços públicos, da proteção das conquistas sociais e trabalhistas e, sobretudo,
da garantia da educação pública de qualidade.
Não vamos
nos calar frente aos avanços das mais diversas formas de manifestação que
afrontam a democracia, inclusive a assustadora disseminação do ódio contra
pessoas em razão das suas diferenças sociais, de gênero, étnico-raciais e
ideológicas.
Não
vamos fechar os olhos para as mortes, torturas e censuras provocadas pelo
autoritarismo que marcou o nosso recente passado ditatorial.
Não vamos
nos omitir quando direitos tão duramente conquistados estão sob grave ameaça.
Por isso,
conclamamos toda a comunidade universitária a não se calar, a não fechar os
olhos, a não se omitir, a defender a democracia.
José Jackson Coelho Sampaio
Reitor da Uece
Hidelbrando dos Santos Soares
Vice-Reitor da Uece
Então
pergunta-se: O que está acontecendo com o Brasil?
A resposta é a
perplexidade do povo diante dos agentes públicos e privados que desconsideram a
ética e negociam princípios morais.
As consequências são as
práticas e hábitos que agravam a situação do país, já tão preocupante. O
caminho para a regeneração é a retomada da ética como condição indispensável.
Somente por essa via, o Brasil poderá reconstruir o seu tecido social.
A gravidade do momento
nacional é uma ameaça ao Estado Democrático de Direito, pois crescem o
descrédito e o desencanto com a política e com os poderes da República, que se
distanciam das justas aspirações de boa parte da população. Assim, as reformas
e, especialmente, a Reforma Política, devem se configurar em oportunidade para
a recomposição do tecido cultural do Brasil. Nesse sentido, não se pode acirrar
a indiferença com a política.
DAI, DOA
EM QUEM DOER.
Vitório
Boa Ventura (Black White)
APOIO: